Memorial de Berlim | Marilia Mota Silva | Digestivo Cultural

busca | avançada
124 mil/dia
2,0 milhões/mês
Mais Recentes
>>> Bela Vista Cultural | 'Saúde, Alimento & Cultura'
>>> Trio Mocotó
>>> O Circo Fubanguinho - Com Trupe da Lona Preta
>>> Anaí Rosa Quinteto
>>> Chocolatte da Vila Maria
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
>>> Soco no saco
>>> Xingando semáforos inocentes
>>> Os autômatos de Agnaldo Pinho
>>> Esporte de risco
>>> Tito Leite atravessa o deserto com poesia
>>> Sim, Thomas Bernhard
Colunistas
Últimos Posts
>>> The Piper's Call de David Gilmour (2024)
>>> Glenn Greenwald sobre a censura no Brasil de hoje
>>> Fernando Schüler sobre o crime de opinião
>>> Folha:'Censura promovida por Moraes tem de acabar'
>>> Pondé sobre o crime de opinião no Brasil de hoje
>>> Uma nova forma de Macarthismo?
>>> Metallica homenageando Elton John
>>> Fernando Schüler sobre a liberdade de expressão
>>> Confissões de uma jovem leitora
>>> Ray Kurzweil sobre a singularidade (2024)
Últimos Posts
>>> Uma coisa não é a outra
>>> AUSÊNCIA
>>> Mestres do ar, a esperança nos céus da II Guerra
>>> O Mal necessário
>>> Guerra. Estupidez e desvario.
>>> Calourada
>>> Apagão
>>> Napoleão, de Ridley de Scott: nem todo poder basta
>>> Sem noção
>>> Ícaro e Satã
Blogueiros
Mais Recentes
>>> O Presépio e o Artesanato Figureiro de Taubaté
>>> Alice e a História do Cinema
>>> Com-por
>>> Revista Ato
>>> Juntos e Shallow Now
>>> Contos Clássicos de Fantasma
>>> O bom, o ruim (e o crítico no meio)
>>> O surpreendente Museu da Língua Portuguesa
>>> As Últimas, de Pedro Doria e Carla Rodrigues
>>> Kafka: esse estranho
Mais Recentes
>>> Um Gato Entre Os Pombos de Agatha Christie pela Harper Collins (2021)
>>> Regras Oficiais De Atletismo de Vários Autores pela Sprint
>>> Livro Literatura Estrangeira A Garota do Tambor de John Le Carré pela Record (1983)
>>> Diálogo Com Cartas de Jocy de Oliveira pela Sesi sp (2014)
>>> Teorias da Personalidade de Duane P. Schultz/ Sydney Ellen Schultz pela Thomson (2004)
>>> Historia Escola E Democracia 7 Modernabloqueado Para Consignação de Various pela Moderna (2019)
>>> Autismo - Uma Leitura Espiritual de Herminio C. Miranda pela Lachâtre (2009)
>>> A Mandíbula De Caim - Edição Bilíngue de Camelot editora pela Camelot (2023)
>>> Livro Infanto Juvenis Ligado na Energia Série Saber Mais de Luís Carlos de Menezes pela Ática (2000)
>>> Atlas De Anatomia de Anne M. Gilroy pela Gen (2015)
>>> Manual De Desculpas Esfarrapadas Casos De Humor de Leo Cunha pela Ftd (2004)
>>> A Ideia De Uma Ciencia Social E Sua Relacao Com A Filosofia de Peter Winch pela Unesp (2020)
>>> Sob A Invocação De São Jerônimo de Valery Larbaud pela Mandarim (2001)
>>> (Alemão) Blaue Blume Deutsch als fremdsprache Livro do Curso e Manual do Estudante de Lea Tesarová,, Monika Bovermann, Hubert Eichheim pela Unicamp (2011)
>>> Livro Sociologia Fim de Milênio Volume 3 A Era Da Informação: Economia, Sociedade E Cultura de Manuel Castells pela Paz e Terra (1999)
>>> Poem(a)s de Augusto de Campos; E. E. Cummings pela Unicamp (2012)
>>> Livro Cinema Nelson Pereira dos Santos o Sonho Possível do Cinema Brasileiro de Helena Salem pela Record (1996)
>>> Do Fundo Do Coração de Mary Lawson pela Best Seller (2003)
>>> Inteligências Múltiplas - a Teoria na Prática de Howard Gardner pela Artmed (1993)
>>> Historia Escola E Democracia 6 de Flavio de Campos, Regina Claro e Miriam Dolhnikoff pela Moderna (2019)
>>> Formação Humana E Parapsicologia de Jorge Luiz Brand pela Do Autor
>>> (Com autografo) It's Raining Men de Paula Klein pela Mauad (2010)
>>> Doutrina E Práticas Umbandistas Cadernos de Umbanda de Omolubà pela Ícone (2009)
>>> Psicologias. Uma Introdução Ao Estudo De Psicologia de Ana Mercês Bahia Bock pela Saraiva (2008)
>>> Livro Contabilidade Curso De Contabilidade Para Não Contadores de Sérgio de Ludícibus, José Carlos Marion pela Atlas (2009)
COLUNAS

Quarta-feira, 23/12/2015
Memorial de Berlim
Marilia Mota Silva
+ de 10100 Acessos

Estive em Berlim, olhando restos do muro que durante mais de vinte anos dividiu a cidade. Não era um muro, simplesmente, eram muralhas paralelas. Entre os dois paredões ficava a Zona da Morte, com torres de vigia, cães e soldados treinados para matar qualquer coisa que se movesse.



Dos terraços do Memorial, na Bernauer Strasse, se vê partes dessa estrutura preservada para a história.

No chão, discretas em meio do gramado, várias placas indicam o local onde os que tentaram fugir tombaram fuzilados.Pessoas totalmente e sabidamente inocentes que só queriam ir e vir. Não aceitavam ser prisioneiras do Estado.

O muro contornava edificios, monumentos, atravessava praças, passava no meio de ruas e avenidas, bloqueava estações de metrô, isolava o Portão de Brandenburg, marco histórico da cidade, e o palácio do governo de cujas escadarias Hitler tantas vezes inflamou a multidão.

Mal comparando seria como construir uma muralha na frente do Teatro Municipal no Rio, separando-o da Cinelândia e do resto da cidade, e punindo com a morte quem tentasse passar para o outro lado; ou na Praça da Sé em São Paulo. Uma insanidade tão absoluta que se duvidaria que tivesse acontecido, não fosse tudo tão recente e bem documentado.

Não se divide uma cidade grande e antiga de um dia para o outro. O processo foi longo, bem planejado.
Primeiro separaram o fornecimento de gás, de luz, os trilhos dos bondes, as linhas de ônibus. O metrô foi proibido de parar nas estações do leste, que se tornaram estações-fantasma.
Construiram postos de controle com guardas armados. Puseram cercas provisórias de arame-farpado. Quando terminaram de construir o muro, aí sim, toda a comunicação foi interrompida. Famílias e amigos, separados para sempre, e sem direito a visita.

No Memorial de Berlim, assisti a depoimentos de pessoas comuns que viveram aqueles anos. Por que não fugiram enquanto era tempo, enquanto havia apenas postos de controle, quando o trânsito entre leste e oeste ainda era possível? Porque é dificil deixar o lugar onde se vive e eles não acreditavam que sua liberdade estivesse ameaçada. E assim adaptaram-se às novas ordens. As compras feitas "do outro lado" passíveis de confisco e punição nos postos de controle, eram escondidas como pequenos contrabandos. Os que tinham emprego no lado oeste se demitiram. Mudaram as crianças de escola.

O sistema político-econômico não os preocupava. O país havia dado a Hitler, a seu programa nacional-socialista, quase 100% de seus votos, conferindo-lhe todos os poderes.

A Alemanha perdeu a guerra, Hitler foi derrotado, mas ideologias não são destruídas pela força. E não é difícil entender que pessoas de boas intenções e bom coração se inclinassem por esses princípios:

- Contra o individualismo, contra o capitalismo. A favor do coletivismo. A favor de uma direção central da economia visando o bem comum. A favor do autoritarismo político com um líder no topo.
Compreensível que vissem nisso uma solução, dada a situação angustiante da Alemanha depois da I Grande Guerra.

Mas quando os muros se fecharam a sua volta, e se deram conta de que estavam presos, então cavaram túneis, tentaram escapar de todas as maneiras.

Os soldados que atiraram em pessoas inocentes e desarmadas, os burocratas diligentes na teia de poder do Estado, muitos dos que mantiveram esse sistema funcionando por tanto tempo, em princípio, talvez fossem movidos pelas melhores intenções. Muitos certamente se consideravam pessoas éticas, leais, idealistas, que para construir um mundo melhor para todos, mais justo, tinham que recorrer ao uso da força contra os que não compreendiam seus nobres objetivos. Em nome desse bem maior, tudo se justificava, e os bons e compassivos já não se distinguiam dos violentos, sádicos e destrutivos.

Cidade sofrida essa Berlim. Hitler e depois Stalin, crime e castigo. Bombardeada na II Guerra, dividida como despojo de batalha e dilapidada de novo pelos comunistas. Puseram abaixo palácios históricos com seus acervos de arte. Alguns estão sendo cuidadosamente reconstruidos.

Ainda hoje é marcante a diferença entre as duas partes de Berlim. Os prédios quadrados, pardos, despojados predominam em áreas do lado leste. Muitos já receberam fachadas novas ou foram inteiramente renovados. Mas leva tempo recuperar uma cidade.

Não deveria ser tao dificil encontrar uma forma de viver, de organizar a sociedade que dispensasse o autoritarismo, a violência do Estado, genocídios, muralhas, ou que permitisse que qualquer pessoa vivesse em condições miseráveis.

O mundo que temos reflete quem somos. No dia em que encararmos isso, e nos dispusermos a mudar no que for preciso, haverá mais justiça social, seja qual for o sistema de governo. Que não seja o previsto por George Orwell, admirável visionário, nem o abandono de pessoas a sua sorte, nem o esgotamento do planeta.


Marilia Mota Silva
Washington, 23/12/2015

Quem leu este, também leu esse(s):
01. Freud e a mente humana de Julio Daio Borges


Mais Marilia Mota Silva
Mais Acessadas de Marilia Mota Silva em 2015
01. Memorial de Berlim - 23/12/2015
02. Minha Terra Tem Palmeiras - 15/7/2015
03. O Velho e Bom Complexo de Inferioridade - 4/2/2015
04. Viagem a 1968: Tropeços e Desventuras (2) - 25/2/2015
05. Pendurados no Pincel - 18/3/2015


* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site



Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Vera Cruz
Alberto de C. Alves
Global
(2003)



Etiqueta, protocolo e cerimonial
Augusto Estellita Lins
Escopo
(1985)



Nas Profundezas do Inferno - autografado
Arthur Poerner
Booklink
(2007)



Livro Auto Ajuda Homens São de Marte Mulheres São de Vênus Um guia prático para melhorar a comunicação e conseguir o que você quer nos seus relacionamentos
John Gray
Rocco
(1995)



Trilogia Surrender - 3 Volumes
Maya Banks
Quinta Essencia / Leya
(2015)



Enquanto Escrevo dedicatória do autor
Marina fagundes Gueiros
Livros Ilimitados
(2011)



A Vida Cultural do Automóvel
Guillermo Giucci
Civilização Brasileira
(2004)



O que é marketing 522
Raimar Richers
Abril Cultural
(1985)



Livro Infanto Juvenis A Cegonha Inexperiente Série Olho Mexe-Mexe
Raquel Teles / Marisa Deckers
Leitura



New American Inside Out
Ceri Jones e Outros
Macmillan
(2010)





busca | avançada
124 mil/dia
2,0 milhões/mês